quinta-feira, 3 de novembro de 2011

As minhas histórias dos enfeites de Natal: O Pinheiro pintado de Vermelho

Há muitos e muitos anos, o Natal era comemorado apenas nas igrejas. As pessoas iam aos templos, comemorar o nascimento de Jesus. Não havia enfeites em casas nem trocas de presentes. Apenas uma ceia de Natal em família.
Certo dia, um agricultor pobre não tinha dinheiro para dar nada de especial de jantar aos filhos. Na tarde do dia de Natal, estava sentado numa pedra, junto à sua horta. Estava uma tarde solarenga de Inverno, em que os fios de sol, faziam reluzir as gotas de água das chuvas da manhã, nos frutos das árvores. As maças pareciam mais vermelhas e brilhantes que nunca. No canto do quintal caiam, das carumas de um pinheiro jovem, pingos brilhantes e translúcidos.
 A imagem era tão bela que o agricultor teve uma ideia.Apanhou as melhores maças e colocou-as entre os ramos do pinheiro. Tapou a obra.
À noite, após o jantar, a mulher do agricultor, muito triste, ia dizer as crianças que não havia guloseimas para sobremesa quando foi interrompida pelo marido:
-Que disparate mulher! Eu tenho um presente para todos! Atrás das vossas costas, em cada uma das cadeiras está um pedaço de zarapilheira. Tapem os olhos com ela e aguardem! Tu também, Maria!
O agricultor, levantou-se, foi ao quintal e destapou a árvore. Agarrou num cantâro de água e molhou o pinheiro mas como estava escuro já não havia brilho. Tinha pensado em trazer a familia para o quintal.
De repente, teve uma ideia: arrancou com muito cuidado o pinheiro. Foi à arrecadação buscar um vaso de barro e colocou lá a pequena árvore. Levou-a para dentro de casa e colocou-a junto à lareira que, naquela noite de Inverno, estava sempre acesa. O brilho do fogo fez novamente brilhar as goticulas de água dos fios do pinheiro e das maças.
Chamou os filhos e a mulher disse:
-Destapem os olhos, meus filhos! Este ano não houve dinheiro para vos dar doces mas queria-vos brindar com esta imagem. Venham até a lareira.
O fogo, ardia mais intenso do que nunca. O pinheiro brilhava. A família ficou parada a admirar aquela beleza.
Juntaram-se todos junto à lareira, a contar histórias, aquecidos pelo calor e iluminados pelo brilho das gotas translucidas  da caruma e encantados pela cor vermelha e brilhante das mais belas maças que tinham visto.
Não foi a noite mais doce mas foi a mais bela que haviam passado.
A partir dai, todos os Natais, enfeitaram sempre o mesmo pinheiro que foi crescendo com as crianças.
Com o passar dos anos, os meninos e meninas cresceram e tiveram os seus próprios filhos. A tradição manteve-se. As maças vermelhas foram contudo,substituidas por bolas de Natal.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Será realidade?

Faltavam 15 minutos para as onze e o telemóvel do Miguel vibrava na mochila. A sorte é que coincidiu com o intervalo.
-Sim mãe, vamos?
-Vamos. Já combinei com a tua avó.
-Yuppie!!!!
O sinal de entrada começou a tocar.
-Mãe, vou ter que ir. Beijos, até logo!
Já na sala de aula, a professora:
-Meninos! Quero os trabalhos de português em cima das mesas para eu recolher!
-Miguel, onde está o teu trabalho?
-Professora, eu gostei imenso do tema que escrevi dois trabalhos!
-Dois? Mostra-me!
-Mostro mas só se a professora me prometer uma coisa!
-O quê?
-Que só lê aos colegas amanhã de manhã e aquele que eu escolher!
-Porquê?
-Antes de mostrar um dos sonhos, preciso de confirmar que o estava realmente a sonhar!
A professora ficou sem palavras. De facto, o tema era tão vasto que os seus alunos poderiam escrever o que quisessem mas não esperava uma resposta tão sincera.
-Está bem! Levo-os para ler e, amanha, mostramos o que escolheres.
-Olá mãe!
-Olá, vamos então ter com os avós.
Ao chegar á casa dos avós, encontraram a avó no jardim a regar as flores:
-Avó! Avó! – Correu o Miguel para seus braços.
A idosa ficou espantada com tamanha reação porque o menino sempre foi um bocado distante. Abraçou o neto e olhou surpresa para a filha.
A mãe de Miguel, encolheu os ombros.
-Avó, deixas-me ir brincar para o teu sótão?
-Porquê? Está fechado a imenso tempo. Acho que já não vou lá desde que a tua mãe saiu de casa. Não queres lanchar primeiro. Deves estar com fome?
-Sim avó! Traz as tuas bolachas e vem comigo!
-Olha mãe! Ficas com ele um bocado que eu preciso de ir fazer compras para o jantar?
-Claro que fico! Vamos para dentro!
Ao entrar em casa Miguel puxava a saia da avó para ir para o sótão:
-Vamos, vamos!
-Espera Miguel, preciso de ir à cozinha buscar as bolachas!
-Leva-me lá cima primeiro e depois leva-me o lanche.
-Está bem!
Subiram as escadas.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A perda de imaginação

-Ainda bem!
-Diz-me uma coisa, se tu foste criado por mim e dizes que os Brincas são resultado da imaginação das crianças, devem existir imensos por este mundo fora!
-Já existiram mais, sabes! Hoje em dia as crianças não se dão ao trabalho de criar os seus próprios brinquedos porque lhe dão muitos. Há uns anos atrás, na altura dos teus pais havia muitos Brincas. Os tempos eram de crise e não havia muitos OCOS.
-Então quer dizer que os meus pais também criaram os seus Brincas?
-Sim, claro!
-E onde eles estão?
-O do teu pai já não está aqui no teu Mundo, o da tua mãe sim.
-Porquê?
-As crianças crescem e tornam-se adultos. Se ao longo dos tempos tu esqueceres os Brincas eles vão para Castelo do Grande TITE.
-O meu pai esqueceu o seu Brinca?
-Sim.
-E o da minha mãe onde está?
-Está no sítio aonde foi criado. No Sótão dos teus avós.
-A minha mãe não o esqueceu. Mas então, porque o Brinca dela não veio aqui para casa?
-Porque a tua mãe não quis. Quando se casou com o teu pai, apesar de nunca ter esquecido o seu brinquedo, não o trouxe. E ele ficou fechado no sótão, bem como todas as memórias de criança dela.
-Hum, quer dizer que se um dia eu sair desta casa e não te levar tu não vais?
-Se tu não quiseres não. Ficarei neste quarto até que tu me esqueças.
-Então, devem existir muitos Brincas fechados em casas velhas e sótãos esquecidos.
-Sim, e nalguns casos até vários na mesma divisão.
-Vários, como assim?
-No sótão dos teus avós está, o Brinca da tua mãe e o da tua avó.
-A sério? E eles vêem-se uns aos outros?
-E se ao invés de tu me fazeres essas perguntas fosses lá ver? Posso ir contigo se quiseres.
-Miguel, Miguel, acorda! Este rapaz anda agora  preguiçoso todos os dias.
O menino acordou, preparou-se para a escola e levou na sua mochila os dois trabalhos.
A caminho da escola:
-Mãe!
-Sim, Miguel, o que queres?
-Tenho saudades dos avós. Podemos passar por lá, no final do dia?
-Não sei se conseguimos Miguel, tenho que ficar até tarde no trabalho, depois ir fazer as compras para o jantar e depois…
-Vá lá mãe!
-Está bem! Vou pensar nisso e depois logo vemos.
-Podes ligar-me para o telemóvel a dizer assim que decidires?
-Porquê?
-Vá lá mãe!
-Puxa, nunca queres ir ver os avós porque achas que eles são chatos porque estão sempre a dar-te bolachas e a querer brincar contigo a jogos que já ninguém brinca e agora essa vontade toda.
-Vamos, vamos!
-Ok, está bem! Ao final da tarde, ligo-te.
-Não pode ser! Diz-me antes de almoço!
-Porquê?
-Porque à tarde tenho que entregar o meu trabalho de português.
-O dos sonhos? E o que é isso tem a ver?
-É segredo mãe, ligas?
-Sim ligo!
E chegaram ao destino.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O que é um sonho?

Seguiu para a escola. Nesse dia, foi-lhe solicitado um trabalho que todos acharam extremamente difícil: descrever um sonho.
Ao final do dia, Miguel, estava sentado na sua secretária a olhar pela janela para o infinito, procurando fazer o seu TPC.
O único sonho que se lembrava era o da noite anterior. Contudo, temia que o gozassem. Passado algum tempo, sua mãe abriu a porta, pensando que o menino estava a brincar ao invés de estudar:
-Miguel, Miguel!
O menino nada respondia. Estava absorto nos seus pensamentos.
-Miguel, acorda!
-Sim. Mãe! O que é?
-Estás a dormir de olhos abertos? Já fizeste os trabalhos?
-Não! São muito difíceis!
-Hum! O que é?
-A professora pediu que descreve-se um sonho. Não me lembro de nenhum. Acho que nunca sonhei – Mentiu.
-Miguel, os sonhos não só ocorrem quando estamos a dormir, sabes?
-Então?
-Sonhos também são desejos. Quando tu pedes um brinquedo ao Pai Natal, por exemplo. É um sonho!
-Não sabia! Vou escrever então.
O menino descreveu o brinquedo que tinha pedido no ano anterior no Natal e foi jantar.
À noite, tentava adormecer, mas não conseguia. Achava que o que tinha escrito era pouco importante face ao que tinha sonhado na noite passada.
Levantou-se, pegou num lápis e num papel e escreveu o seu sonho. Descreveu o Grande TITE, os Brincas e os Ocos. Foi à sua caixa de plasticina, tirou de lá o Boneco e desenhou-o na folha, para ilustrar o seu texto. Tinha assim dois trabalhos feitos. Colocou-os na mochila e foi-se deitar. Deixando para o dia seguinte a decisão de qual dos dois levaria à professora.
A meio da noite:
-Que horrível! Podias ao menos ter feito um retrato melhor meu! Tenho um olho maior que o outro e os pés tortos!
Miguel abriu os olhos e não queria acreditar. O boneco verde estava com o seu desenho na mão.
-Tu, outra vez? Agora sonho sempre contigo!
-E quem disse que tu estavas a sonhar?
-A professora ensinou-me o que era um sonho. Algo que não existe e que ocorre na nossa imaginação durante a noite. A minha mãe também me disse que poderia ser um desejo de algo, mas como estou a dormir, és fruto da minha imaginação.
-Desculpa mas eu não sou um fruto! Sou um Brinca! Tu criaste-me! Saí da tua imaginação mas agora existo mesmo.
Miguel, não quis contrariar o Boneco porque ele estava já a ficar castanho nas bochechas e parecia que ia explodir. Resolveu então entrar na brincadeira. Se era um sonho seu, nada de mal lhe podia acontecer.
-Está bem, está bem! Não te contrario mais!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Mundo dos Brincas

A caixinha de plasticina do Miguel estava separada com divisões para não misturar as cores. Gostava de fazer figuras para brincar. Por vezes, deixava-as feitas dentro da caixa, junto ao resto, não moldado, para brincar no dia seguinte.
Naquela tarde, tinha feito uma figura, na sua cor preferida, o verde. Era um boneco muito simples, duas bolas unidas, uma maior e outra mais pequena. Nos olhos colocou dois botões brancos, nos pés, duas partes de molas de roupa e nos braços dois pedaços de corda também branca, com uns nós nas pontas.
Quando a figura estava formada, não conseguiu desfazê-la. Ficou a olhar para o boneco, a pensar que nome daria a figura tão caricata.
Já ao anoitecer, tentava dormir mas a imagem do boneco simpático verde pairava na sua mente.
Uns barulhos estranhos vinham de dentro da caixa. Parecia que os pedaços de plasticina ganhavam vida. De repente, uma voz:
-Miguel, Miguel, tira-me daqui!
Abriu os olhos meio estremunhados e viu apenas sombras no quarto. Tinha medo, muito medo do escuro. Adormecia sempre com luz de presença.
Levantou-se e da prateleira do armário dos brinquedos a caixa mexia-se sozinha. Conseguia ver porque, uma parte dos estores, do quarto, estava aberta e a claridade do candeeiro da rua iluminava aquela parte da divisão.
Apesar do receio da escuridão, Miguel levantou-se da cama e dirigiu-se ao armário, parando a olhar para a caixa, que se voltou a mexer:
-Não fiques parado a olhar para mim! Liberta-me daqui!
O menino ganhou coragem e abriu a caixa. Assim que a destapou algo saltou e bateu contra um carro que estava mesmo ao lado. Miguel assustou-se, caindo para trás e ficando sentado no chão.
-Ai, ai, cuidado que me amolgas! Ao menos merecia um pedido de desculpas! Não falas? Malcriado! Quando tiver com o Rei TITE vou fazer queixa de ti.
Miguel, do chão não conseguia ver nada e levantou-se. Qual não foi a sua surpresa quando viu o boneco simpático, estatelado na porta do carro telecomandado.
-E tu? Não fiques a olhar para mim com esse ar de espanto! Já viste esta malcriação? Nunca tinha visto ninguém violar as Normas do Grande Puzzle. Deve ser OCO.
-Quem é o Grande Puzzle, o rei TITE e tu?
-Não sabes quem sou? Essa agora! Fizeste-me ontem à tarde, libertaste-me e não me reconheces?
-Sim, fiz-te mas, mas…tu falas?
-Claro que falo! Porque não deveria falar? Vocês, os Grandes Cabeças com Pelo, são mesmo ignorantes.
-Porque nos chamas assim?
-Ora, porque vocês só têm pelo na cabeça. Nós, os Brincas, ou temos no corpo todo ou não temos. Vocês só têm nessa Grande Cabeça.
-Quem são os Brincas?
-Tu não te cansas de fazer perguntas, pois não?
-Desculpa mas tens uma linguagem estranha!
-Todos nós os Brinquedos feitos por crianças falamos. Somos diferentes dos outros comprados, os OCOS. Saímos da vossa imaginação, logo temos vida própria.
-E onde vocês vivem?
-Vivemos em todo lado. Temos um Rei, o grande TITE, que vive num castelo criado por um menino algures no mundo.
-E as regras que falaste? As do Puzzle.
-Não são do Puzzle! São as do Grande Puzzle! São regras de bom comportamento que um dia uma menina escreveu numa cartolina, com desenhos e recortou para fazer um puzzle. Foi uma maneira de aprender como se comportar à mesa, na rua, na escola e em casa. Ao tentar refazer o puzzle aprendia as regras de uma menina bem comportada.
-Certo mas como é que tu as sabes?
-Miguel, Miguel, está na hora de acordares para ir para a escola!
O menino acordou, levantou-se de repente, olhou para o armário e a caixa estava exatamente como a tinha deixado.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Pataltos

imagem: net
Em cima de, um dos telhados de zinco, no pavilhão da praça dos Olivais, andava Pataltos, o primeiro pombo adepto do parkourinho. Passava horas, saltando de socalco em socalco do pavimento. O desafio consistia em não usar as asas para mudar de sítio, recorrendo sempre à força das patas.
Pousado na ponta mais alta, outro pombo, olhava-o, com gozo:
-Pataltos, és mesmo tonto! Os humanos andam a construir máquinas para voar e tu, que tens asas, fazes tudo para não as usar.
O desportista não ligava a este tipo de observações e continuava concentrado na sua atividade.
Nessa tarde, o céu escureceu, de repente. As nuvens quase que bloquearam a luz do sol. O vento começou a soprar cada vez mais forte, formando uma espécie de cone escuro, a uns metros dali. Nunca tinham visto nada assim.
O pombo gozão, olhou e calmante afirmou:
-Vem ai uma tempestade. Estamos aqui bem. Qualquer coisa voo ali para debaixo de um telhado dos prédios.
Contudo, o tempo foi ficando cada vez mais ameaçador. O cone de vento mais escuro aproximava-se do telhado da praça. As rajadas que se seguiram foram tão fortes e intensas que as folhas das árvores, no jardim em frente, foram arrancadas dos ramos, à força.
O pombo gozão abriu as asas e tentou voar, mas o vento estava demasiado forte e não conseguiu. Arrastou-o e levou-o sem controlo. Por sua vez, Pataltos, usou toda a força que adquiriu nas patas, com o desporto e ficou bem preso ao telhado.
O tornado passou e tudo se acalmou. O pombo gozão, estava em cima de um dos ramos mais altos de uma árvore. Tinha sido forçado, pelo vento, a andar as voltas até chegar aquele lugar. Exausto, voou em direção ao telhado da praça:
-Pataltos, não saíste daqui? Não consegui voar!
-Eu não! Sabes, o parkourinho, tornou as minhas patas mais fortes. Agarrei-me aos socalcos com toda a força!
-Incrível!
-Posso aprender?
-Claro mas é melhor descansares um pouco primeiro.

Todos nós temos um dom. Uma capacidade que é inata, que nasceu connosco. Contudo, podemos, ao longo do tempo, treinar as restantes, pois nesta vida só vence, quem um pouco de tudo, souber fazer.


Curiosidade: "Parkour (por vezes abreviado como PK) ou l'art du déplacement (em português: arte do deslocamento) é uma atividade cujo princípio é mover-se de um ponto a outro o mais rápido e eficientemente possível, usando principalmente as habilidades do corpo humano". in Wikipédia

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Xoufina

imagem: net
Rastejando pelos campos, andava a esguia cobra Xoufina. Chamavam-na assim por, ela acentuar muitos os S´s ao falar e por ser extremamente vaidosa. Considerava-se a mais esbelta de todas.
-Já almoçaste? – Perguntava a sua mãe.
-Não como maix, Xoufina.
O seu primeiro Inverno aproximava-se e todas as suas irmãs, comiam que nem umas loucas, por recomendação dos mais velhos.
-Xoufina, tens que comer! No frio não há comida! Vamos todas para toca dormir durante alguns meses.
-Não quero ficar gorda! Dormir pode ser, porque faz bem a pele.
Olhava para as suas irmãs com ar de superioridade à medida que elas iam tendo cada vez mais dificuldade em entrar na toca.
O tempo ia ficando mais frio e as árvores despidas de folhas. Certo dia:
-Meninas, hoje não vamos sair,   durante algum tempo, até o frio passar.
As manas da Xoufina, estavam gordas e anafadas. Tinham planeado bem o seu tempo livre embora, na sua maioria, era passado a dormir.
Xoufina, ia ficando, dia após dia, cada vez mais pálida. Suas escamas estavam mais secas que nunca e quase não tinha forças.
-Mãe, tenho fome! Vou ter que ir lá fora caçar!
-Não podes! É muito perigoso.
Os dias iam passando. A fome começou a pesar mais forte que os avisos maternos e Xoufina, atreveu-se a sair da toca. Caminhou pelo caminho subterrâneo e de repente, ficou sem saída. Algo a tapava. Tocou com a sua língua o obstáculo e sentiu um frio imenso que teve que a retirar logo. Era neve.
Teve forças para ali chegar mas já não tinha para regressar e adormeceu exausta.
-Xoufina! Xoufina! Acorda!
Abriu os olhos, com muito esforço.
-Vem comigo!
A saída da toca estava aberta e lá fora estava Sol.
-Aproveita, que hoje está Sol! Deve ser aquilo o que os humanos chamam Verão de São Martinho e vai comer tudo o que puderes.
Xoufina, saiu da toca e comeu, comeu como se fosse o seu último manjar.