quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A perda de imaginação

-Ainda bem!
-Diz-me uma coisa, se tu foste criado por mim e dizes que os Brincas são resultado da imaginação das crianças, devem existir imensos por este mundo fora!
-Já existiram mais, sabes! Hoje em dia as crianças não se dão ao trabalho de criar os seus próprios brinquedos porque lhe dão muitos. Há uns anos atrás, na altura dos teus pais havia muitos Brincas. Os tempos eram de crise e não havia muitos OCOS.
-Então quer dizer que os meus pais também criaram os seus Brincas?
-Sim, claro!
-E onde eles estão?
-O do teu pai já não está aqui no teu Mundo, o da tua mãe sim.
-Porquê?
-As crianças crescem e tornam-se adultos. Se ao longo dos tempos tu esqueceres os Brincas eles vão para Castelo do Grande TITE.
-O meu pai esqueceu o seu Brinca?
-Sim.
-E o da minha mãe onde está?
-Está no sítio aonde foi criado. No Sótão dos teus avós.
-A minha mãe não o esqueceu. Mas então, porque o Brinca dela não veio aqui para casa?
-Porque a tua mãe não quis. Quando se casou com o teu pai, apesar de nunca ter esquecido o seu brinquedo, não o trouxe. E ele ficou fechado no sótão, bem como todas as memórias de criança dela.
-Hum, quer dizer que se um dia eu sair desta casa e não te levar tu não vais?
-Se tu não quiseres não. Ficarei neste quarto até que tu me esqueças.
-Então, devem existir muitos Brincas fechados em casas velhas e sótãos esquecidos.
-Sim, e nalguns casos até vários na mesma divisão.
-Vários, como assim?
-No sótão dos teus avós está, o Brinca da tua mãe e o da tua avó.
-A sério? E eles vêem-se uns aos outros?
-E se ao invés de tu me fazeres essas perguntas fosses lá ver? Posso ir contigo se quiseres.
-Miguel, Miguel, acorda! Este rapaz anda agora  preguiçoso todos os dias.
O menino acordou, preparou-se para a escola e levou na sua mochila os dois trabalhos.
A caminho da escola:
-Mãe!
-Sim, Miguel, o que queres?
-Tenho saudades dos avós. Podemos passar por lá, no final do dia?
-Não sei se conseguimos Miguel, tenho que ficar até tarde no trabalho, depois ir fazer as compras para o jantar e depois…
-Vá lá mãe!
-Está bem! Vou pensar nisso e depois logo vemos.
-Podes ligar-me para o telemóvel a dizer assim que decidires?
-Porquê?
-Vá lá mãe!
-Puxa, nunca queres ir ver os avós porque achas que eles são chatos porque estão sempre a dar-te bolachas e a querer brincar contigo a jogos que já ninguém brinca e agora essa vontade toda.
-Vamos, vamos!
-Ok, está bem! Ao final da tarde, ligo-te.
-Não pode ser! Diz-me antes de almoço!
-Porquê?
-Porque à tarde tenho que entregar o meu trabalho de português.
-O dos sonhos? E o que é isso tem a ver?
-É segredo mãe, ligas?
-Sim ligo!
E chegaram ao destino.

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